Viver em Khao San Road, no coração de Bangkok, na Thailandia, é uma coisa um pouco bizarra. É uma estrada cheia de contradições e coerências ao mesmo tempo. De opostos que se atraem. Por exemplo, as prostitutas ou putas tristes (como dizia Marquez), convivem ao lado dos gordos monges (padres) budistas vestidos de laranja. Ora, para os gregos o mundo era Kosmo, ou seja, ordem e, portanto belo; em oposição ao Kaos, aquilo que é desordenado, ou seja, não belo e injusto. Interessante porque as palavras cosméticos e cosmologia derivam de cosmo (e.g. beleza), enquanto a palavra caótico deriva de Kaos. Mas o belo é ordenado e, o injusto é desordenado? Como Kosmo e Kaos!
Talvez, a coisa bizarra de Khao San Road é não derivar de Kaos. Pois, aqui a desordem é bela e bem ordenada. Talvez, a desordem seja somente uma questão estética e não propriamente ética. Porque, em Khaosan road cada qual está no seu lugar e cada um respeita o espaço e a liberdade do outro. As putas tristes não pisam na saia dos monges laranjas e os monges laranjas não pisam no pé das putas tristes. Talvez, somente em Khao San Road, o Kaos é um pouco Kosmo (belo) e o Kosmo é um pouco Kaos (injusto). Uma desordem bem ordenada. Pensando bem, a bandeira do Brasil diz: “ordem e progresso”. A pergunta filosófica: qual é a ordem bela e qual o justo progresso por uma nação? Hoje em dia, tudo é medido pelo PIB e somente se fala que o crescimento econômico é um belo progresso; enquanto a educação e a justiça, ou seja, o IDH (Índice desenvolvimento humano) é um Kaos de putas tristes. Alguma vez alguém disse: “Tudo em ordem, mas nada ordenado”.
Também este computador empoeirado de Bangkok é um pouco bizarro. Não permite escrever direito. É uma desordem bem ordenada de letras Thai e de alfabeto latim. Será que os opostos convivem, como dizia Heráclito. Com-viver, quer dizer viver com, em companhia de algo ou alguém. Talvez, a vida é um pouco isso, uma com vivencia de putas triste e monges, de Kaos e Kosmo. Entretanto, nem sempre e nem tudo o que no mundo e, especialmente no Brasil, é “ordem e progresso”, é justo e belo…
m.b.
marco bonatti 
Na capital da Tailândia, neste fim do mundo, o povo sabe respeitar e conviver com as diferenças. A harmonia e o equilíbrio das diferenças tem um indicativo de humildade e respeito concreto entre as pessoas. E a justiça deve começar por ai. Rui Barbosa disse: “a justiça é igual para os que são iguais e diferente para os que são diferentes”. Coisa deste tipo. A Constituição Brasileira assevera: “Todos são iguais perante a Lei”. Mas a Lei do mas forte é a que tem prevalecido. A mensuração do PIB é que tem feito a diferença.
A percepção do autor do texto é sagaz. E as analogias que o faz gera uma reflexão que parte de uma cena simples, mas concreta, que pode ser o indicativo de como funciona na prática a cultura social e política de uma nação e de um povo.
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