COFFEE EGGS de HANOI

Levantei com aquela vontade de café que todo viajante carrega no pensamento e no sonho. O dilema: onde podia comprar um cafezinho quente, já que o típico café vietnamita é servido em um copo cheio de gelo e o café batido no creme de leite? Uma delícia, mas naquele dia estava louco para tomar um cafezinho quente, coado no pano, que esquenta o coração e da brilho aos olhos. Pois, precisava acordar e decidir para que lado entrar em Laos. Assim, com parte do desejo do café na ponta da língua e outra no pensamento sai a procura de uma cafetaria, decidido a gastar uma parte do budget em café. Sim, pq um café em Hanoi, a cidade ao norte do Vietnam, custa um olho da cara, a beleza de 25000 Dong, mais que um dólar; enquanto um prato típico, como o Banh Khuc, um saboroso arroz misturado com carne servido em uma folha de bananeira, comido na street food do Old Quarter, custa 21000 Dong. Como é possível? Pois, para cada loucura tem uma explicação. Na indonésia, nas ilhas de Sumatra, Java e Bali (o destino da minha viagem) é produzido o café mais caro do mundo conhecido como Kopi Luwak, feito com grãos de café extraídos das fezes de um mamífero chamado de civeta, que tem uma secreção perfumada das glândulas anais. Um Kg de café chega a custar R$1.000,00. Eita fezes de ouro!

Ora, em Hanoi, o único “perfume” saia do tubo de escapamento dos veículos, razão pela qual todos andavam com uma máscara na boca, como enfermeiro em hospital e, a única coisa que se mexia, além do trânsito caótico das “motobike” (em todo Vietnan tem 37 milhões de moto versus 90 milhões de habitantes) é aquela de milhares de velhos ventiladores, espalhando poeira nas ruas da cidade. O calor era tão grande que em comparação Teresina e Manaus são refrigeradas. Aqui só em pensar no calor, você suava. E todos carregam na mão uma garrafa de 2 litros de água, para evitar a desidratação, através engenhoso sistema que nem o pendulo de Foucault . Ora, o calor da cidade de Hanoi é a consequência do desmatamento, da edificação e urbanização abrupta; as únicas áreas verdes ficaram somente nas lembrança dos mais velhos. Talvez, por causa disso, que o arquitecto vietnamita Vo Trong Nghia, que encontrei em Ho Chi Minh City, a velha Saigon, projetou uma HOUSE FOR TREES, uma casa que hospeda no seu topo, os companheiros mais importante da vida do homem, as árvores. Infelizmente, este inovador projeto estava coberto de segredo de ofício e tive que contentar-me com a visão daquilo que a Natureza tinha feito por si só, sem a ajuda dos homens, centenas de anos antes a House for Trees ter sido pensada ou imaginada. Na Cambodja, na antiga Angkor Wat, cidade do império Khmer Rouge, no templo de Ta Prohm, as árvores haviam crescido, não em fértil terreno, mas acima das sagradas pedras do templo. Hay que adorar os milagres da Natureza diria Espinoza, pq a Natureza é Deus e Deus é a Natureza.

Entretanto, em Hanoi não existem muitas arvores para adorar, mas as Pagodas, ou templos budistas e o templo da literatura feito em homenagem a Confucio, na época que a China dominou a região durante 1000 anos. Na verdade, a única coisa que naquele momento precisava adorar eram aqueles milhares de ventilador disseminados pelas calçadas, pendurados nas paredes dos prédios, nos galhos das arvores, na da condução dos motoristas de Tuc Tuc.

Ora, no meio daquele calor teria sido + lógico tomar um café gelado, mas nem sempre a lógica acalma o desejo e o meu falava mais alto e apontava para um café quente. Antes de chegar a cafetaria, parei na Yenyen Bekery, uma minúscula padaria, que acabava de sacar deliciosas baguettes, tipo francês. Encontrar pão francês em Vietnam não é coisa rara devido a quase 100 anos de infeliz colonização. É suficiente passar um par de horas na prisão “Hoa Lo Prison”, para ver como os franceses torturavam os defensores da independência de Ho Chi Minh, que suportavam todas as penas do inferno. A baguette era tao quente que esqueci logo daquela historia colonial e, quase de olhos fechados lembrei, quando estudava em Paris, passeando pelas margens do rio Sena, com uma baguette quente, a moda francesa, debaixo do braço…

Lembrando de tudo isso e com uma insaciável vontade de café, andava eu em busca de um cafezinho quente, depois de um mês de abstinência na Ásia.

No meio da rua Cau Go, encontrei uma bela cafeteria vietnamita, o Café Pnuong Linh. Sentei na calcada, numa mesinha em estilo oriental, bem em frente a um enorme ventilador que parecia saído da turbina de um avião, disparando já às 7hs da manhã um vento morno a céu aberto.

A moca do Café Pnuong Linh não falava inglês e tentei desenhar no ar com o dedo uma xícara de café. A moça ficou perplexa, como quem está tentando adivinhar o pensamento do outro e, logo depois, voltou com uma fotografia do cardápio, mostrando um COFFEE EGGS . Meus olhos, quase lacrimejantes de felicidade, falavam por mim. Os ovos casavam perfeitamente com a baguette quente que carregava e um “hot black coffee” (cafezinho quente), era tudo aquilo o que desejava.

Perguntei a moça quantos ovos incluía o café. Dois, disse levantando os dedos, como se tivesse lido no meu pensamento. Perfeito, teria colocado dos ovos, de preferência fritos, dentro da baguette. Na verdade, estava com fome e aqueles 25000 Dong era um ótimo investimento, pensei.

– It’s ok, one Coffee Eggs, disse e juntei as mãos, como durante uma oração, baixando a cabeça, em sinal de respeito e comoção.

Em seguida, a moça voltou, com um grande café dentro uma taça de capucino, cheio de uma espessa espuma branca-amarela. Perguntei para os ovos e a moça fez sinal com os dois dedos que os traria daqui a pouco, apontando para a cozinha. Na verdade, aquele café-capucino, se parecia mais com tiramisu com creme de mascarpone e claras montadas a neve.

Abri o pão onde teria deitado os dois ovos e, ataquei o café com uma colher. Em menos de 60 segundos tinha acabado aquela delicia. Mas dos os ovos nenhuma noticia…

– WHERE’S MY EGGS? (cd os ovos) perguntei.

Depois de uma meia hora de espera e a baguette fria, fui reclamar os dois ovos diretamente na cozinha, mas a cozinheira abriu os braços como se não soubesse nada.

– Puxa vida, que enigma era este, pensei.

Foi somente no final, quando a minha  capacidade adivinhatória voltou a funcionar, que me toquei do que havia passado. Com a ajuda da moça, resolvi o enigma dos ovos e do café, que nem a Esfinge de Sófocles, e o motivo pelo qual nunca teriam chegados! Eles foram batidos dentro do café que se parecia com o mascarpone do tiramisu.

Enfim, tinha bebidos os ovos no café em vez de comê-los! Portanto, nada de ovos fritos ou cozidos. Paguei com uma nota de 50.000 Dong e a moça me perguntou se queria outro Coffee Eggs.

– Não, pelo amor de Deus, exclamei levantando os braços como um prisoneiro de “Hoa Lo Prison”! Ela me devolveu o troco, a moda oriental, estirando as notas com as pontas dos dedos das duas mãos e baixando o olhar.

Assim foi revelado o enigma do famoso COFFEE EGGS vietnamita, da historia do café e dos ovos e eu, como Éfeso, pude continuar a minha viagem para Laos. Mas precisava lembrar de um detalhe: estava no meio da Ásia, ao lado da fronteira com a China e não em Tebe, uma ilha da antiga Grécia, no coração do mediterrâneo…

Posted by Marco Bonatti – Hanoi, Vietnam, 26.07.2014

 

 

1 thoughts on “COFFEE EGGS de HANOI

  1. A saga de um povo tem sempre muita grandeza. E somente os grandes tem a sensibilidade necessária para sentir a riqueza da cultura do povo que a faz. Tratando-se dos povos asiáticos, de cultura muito peculiar, a sensibilidade dobra de tamanho. No texto, o espírito aventureiro do narrador, confunde-se com as suas aventuras reais. E nas suas andanças ele encontrou o que sempre procura: o que há de mais belo a redor do Planeta. Talvez algo mais sofisticado não o servisse. Pois a sua filosofia de vida não busca o que é de todo comum, mas as particularidades de vidas que ele vai ao encontro tentar decifrar.
    Nesse episódio o autor revela também muita facilidade para narrar fatos do cotidiano que fazem a vida acontecer na Terra. Uma terra que já “jorrou leite e mel”, mas que atualmente tem sido coberta de sangue pelo poder daqueles que poderiam promover a paz.

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